Astronautas votam do espaço em 2024: Wilmore e Williams elegerão presidente da Estação Espacial

Astronautas votam do espaço em 2024: Wilmore e Williams elegerão presidente da Estação Espacial
RENATO DA ANTONIO 0 Comentários novembro 21, 2025

Enquanto os americanos vão às urnas em 5 de novembro de 2024, dois astronautas da NASA estarão a 400 quilômetros da Terra, orbitando a Estação Espacial Internacional a 28.000 km/h. O capitão da Marinha dos EUA Butch Wilmore, de 61 anos, e a oficial da Marinha e astronauta indiana-americana Sunita Lyn Williams, de 59 anos, não estarão em Houston, nem em seus lares no Texas — estarão no espaço, mas ainda assim votarão. É o primeiro voto presidencial realizado a bordo do Boeing Starliner, cuja missão, originalmente planejada para oito dias, foi estendida até fevereiro de 2025 por falhas técnicas no sistema de propulsão. Ainda assim, a democracia não para nem mesmo no vácuo.

Como funciona o voto do espaço?

O processo é tão meticuloso quanto uma missão de pouso. Desde 1997, quando o astronauta David Wolf tornou-se o primeiro americano a votar do espaço — da estação russa Mir —, a NASA e o estado do Texas criaram um sistema único para garantir que os astronautas não percam seu direito constitucional. A lei estadual aprovada em 1997 foi uma resposta direta ao pedido de John Blaha, que, em 1996, não pôde votar por não conseguir assinar fisicamente um boleto eleitoral. Hoje, tudo é digital, mas ainda com toques humanos: o voto eletrônico é impresso por um funcionário da Contadoria de Harris County, em Houston, e arquivado fisicamente.

O procedimento começa com o preenchimento do Federal Post Card Application (FPCA), um formulário federal que pede o voto ausente. A partir daí, o escritório eleitoral envia dois e-mails criptografados: um com o boleto em PDF, outro com a senha de acesso — separados por segurança. O astronauta responde a partir da ISS, usando um tablet conectado à rede da NASA. O voto é então transmitido via Sistema de Satélites de Rastreamento e Relé de Dados (TDRSS), passando pela antena de White Sands Test Facility, no Novo México, antes de chegar ao Centro Espacial Johnson, em Houston. Lá, é redirecionado ao escritório eleitoral local. Nenhum funcionário da NASA vê o voto — apenas a confirmação de que foi enviado.

Por que o Texas é único?

Nenhum outro estado dos EUA tem uma lei específica para voto espacial — e a razão é simples: a NASA tem sua base principal de operações de astronautas em Houston. Por isso, quase todos os astronautas mantêm seu domicílio eleitoral em Harris County, mesmo que vivam em outros estados. É uma exceção legal que nasceu da necessidade, não da teoria. Marta Durham, oficial da NASA que explica o processo no podcast Houston, We Have a Podcast, diz que a ideia não é “facilitar o voto”, mas “garantir que o direito não seja perdido por acaso”. E isso funciona: desde 2004, astronautas votaram em quase todas as eleições presidenciais. Em 2020, Kate Rubins, bióloga molecular, votou da ISS — e agora, em 2024, Wilmore e Williams serão os primeiros a fazê-lo a bordo do Starliner.

Restrições políticas: o que eles NÃO podem fazer

Restrições políticas: o que eles NÃO podem fazer

Apesar de poderem votar, os astronautas não são livres para fazer campanha. O Hatch Act (5 U.S.C. § 7321-7326) proíbe funcionários públicos federais de usar seu cargo para influenciar eleições. Isso significa: nenhum tweet apoiando candidatos, nenhuma foto com bandeiras partidárias, nenhuma entrevista na TV dizendo “vote em X”. Eles podem discutir políticas públicas — energia, ciência, mudanças climáticas — mas não podem dizer “eu apoio Biden” ou “Trump é o melhor para a NASA”. A NASA reforça isso com memos internos, como o de outubro de 2004, que distingue claramente entre “atividade partidária” e “debate de questões públicas”.

Outros astronautas que votarão em 2024 incluem Don Pettit, de 69 anos, engenheiro químico com três missões no espaço, e Nick Hague, coronel da Força Aérea e veterano de missões de resgate orbital. Todos precisam comprovar que não poderão retornar à Terra durante o período eleitoral — e a NASA fornece cartas médicas que explicam a impossibilidade física de votar em pessoa. É um detalhe burocrático, mas essencial: sem essa documentação, o voto não é aceito.

Por que isso importa?

Essa não é só uma curiosidade espacial. É um símbolo poderoso: mesmo quando estamos fora do planeta, a democracia nos acompanha. A tecnologia que permite esse voto — satélites em órbita, criptografia de ponta, comunicação segura — é a mesma que conecta militares, hospitais e empresas globais. Mas aqui, ela serve a algo mais profundo: a ideia de que cidadania não tem altitude. Enquanto o mundo assiste à eleição presidencial, esses astronautas estão fazendo parte dela, não como representantes da NASA, mas como cidadãos comuns — só que com uma vista incrível.

Além disso, a extensão da missão do Starliner até fevereiro de 2025 torna este voto ainda mais simbólico. Eles não apenas estão participando de uma eleição — estão vivendo uma missão que desafiou todas as previsões. A NASA não desistiu deles. E eles não desistiram do direito de escolher.

Como o sistema evoluiu desde 1997?

Como o sistema evoluiu desde 1997?

Quando David Wolf votou pela primeira vez, o processo era manual e lento. O boleto era enviado por satélite, impresso na Terra, assinado e devolvido. Hoje, tudo é digital e criptografado. A NASA também aprimorou sua rede de comunicação com o Near Space Network, que inclui estações terrestres em seis continentes e satélites em órbita geossíncrona. O atraso médio entre o envio do voto e sua chegada à Terra é de menos de 10 minutos — quase em tempo real.

Curiosamente, a Rússia e a China ainda não têm sistemas semelhantes. A Roscosmos e a CNSA não permitem que seus astronautas votem do espaço — o que torna o sistema norte-americano não só único, mas um modelo potencial para o futuro.

Frequently Asked Questions

Como os astronautas garantem que seu voto não seja hackeado?

O voto é criptografado com protocolos de segurança militares antes de ser enviado. A senha de acesso é enviada em um e-mail separado, e nem a NASA nem qualquer funcionário da estação têm acesso ao conteúdo do voto. Apenas o escritório eleitoral do Texas pode decifrá-lo, e isso só acontece após a confirmação de identidade do astronauta. Todo o processo é auditado por técnicos independentes.

Por que o voto é impresso na Terra se já é digital?

A lei do Texas exige que todos os votos sejam registrados fisicamente para fins de auditoria e segurança jurídica. Um funcionário do escritório eleitoral imprime o PDF, preenche manualmente uma cédula física e a arquiva junto com o registro digital. Isso garante que, mesmo em caso de falha técnica, o voto não se perde — e pode ser recontado se necessário.

Quem mais pode votar do espaço além dos astronautas da NASA?

Atualmente, apenas cidadãos norte-americanos que residem no Texas e estão em missões espaciais têm esse direito. Outros países não têm legislação equivalente. A ESA e a JAXA permitem que seus astronautas votem por correspondência, mas não em tempo real do espaço. A NASA é a única agência com um sistema integrado e legalmente reconhecido.

E se o Starliner não voltar em fevereiro? Eles ainda poderão votar em 2026?

Sim. O sistema foi projetado para missões de longa duração. Se Wilmore e Williams permanecerem no espaço em 2026, poderão votar novamente, desde que mantenham seu domicílio eleitoral no Texas e atualizem o FPCA. A NASA já prepara protocolos para eleições futuras — até para viagens a Marte, caso um astronauta precise votar lá.

Os astronautas têm preferência política conhecida?

Não. A NASA proíbe divulgação de preferências políticas. Wilmore e Williams nunca comentaram publicamente sobre candidatos. Seus comentários sobre o voto foram genéricos: “é um dever cívico”. Isso é intencional — manter a neutralidade institucional é tão importante quanto garantir o voto.

O voto espacial já foi contestado legalmente?

Nunca. O processo foi validado por juristas estaduais e federais, e todos os votos enviados desde 1997 foram contabilizados sem contestação. A transparência do sistema — com registros digitais e físicos — e a ausência de influência externa tornam o processo imune a acusações de fraude.